sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Tchau tchau Brasil!

Ontem quando comecei esse blog notei o quanto de informação existe aqui dentro de mim e no qual eu terei que organizar e relembrar  para passar a vocês. Não que seja uma missão impossível mas lembrar de coisas que aconteceram há 8 anos atrás não é como lembrar o que almocei ontem. Você lembra o que almoçou ontem? e Antes de Ontem?.....e o que estava fazendo em Abril de 2006?
Eu em abril de 2006 estava comemorando minha formatura pela Metodista. Eu agora era uma psicologa e minha familia estava muito orgulhosa de mim. Lembro como se fosse hoje do vestido champagne no qual levei 30 minutos para escolher e do batuque da escola de samba já lá pelas 5 horas da manhã. Lembro também da bronca que levei do meu pai por ter misturado meus amigos na mesma mesa que ele...não entendi o que ele queria dizer com ...."você deveria ter pego uma mesa só pra sua família"...(mas só existem 4 pessoas da minha família qui e a mesa é pra 10 pessoas pai)...enfim...nunca entendi direito as "esquisitisses" do meu pai.
Aquela festa fechava um ciclo com chave de ouro e abria novas portas. Nessa época já tinha ido procurar uma agência de turismo chamada STB. Minha mãe tinha ido comigo em Santo Andre e quando fui apresentada para o programa de Au Pair e seus benefícios senti aquele frio na barriga, e uma certeza enorme de que meu sonho de anos montado na minha cabeça desde pequena poderia se tornar realidade. Eu lembro que minha madrasta e avó já haviam tentando inúmeras vezes me colocar em uma escola de Inglês, mas eu nunca tive muita motivação para aquilo. Depois de 2 meses eu já estava totalmente de saco cheio e queria algo mais dinâmico. Eu fazia aula 2 vezes na semana, com uma hora de aula e tinha que ficar falando em inglês com gente que eu não falava nem em português! UM SACO!!!
O programa de au pair apareceu como uma desculpa para meus amigos, familiares e pra mim mesma..."pelo programa posso ficar 1 ano, aprender o inglês e voltar...". Adorava essa ideia de que poderia ficar 1 ano nos EUA vivendo o sonho americano, ainda me libertando de casa e com a vantagem de nunca mais ter que entrar numa escola de inglês, afinal, viraria uma fluente em Inglês em apenas 1 ano, tão mais prático.
Na agência tive que passar por alguns processos. Fazer umas provas em inglês no qual sinceramente meu anjo deve ter assoprado no ouvido da examinadora. Montei algumas apresentações em inglês do tipo" Hello my name is Carla and I like children :) "....,OI???  Por sorte tinha trabalhado 5 meses em uma escola infantil então a parte de comprovar experiência com crianças foi a mais fácil.
Finalmente após alguns processos burocráticos na agência só faltava passar pelo processo de visto no consulado Americano e ficar online no tal facebook de aupairs.
Já  havia ouvido de algumas pessoas que o visto era muito difícil de ser adquirido ainda mais depois do September 11th, mas a minha parte sempre otimista não via obstaculo nisso, as pessoas tentavam me "treinar" em o que dizer para conseguir o visto mas na minha cabeça eu só pensava em dizer a verdade, afinal,  ser pega na mentira é como ganhar cartão vermelho em um jogo de futebol.... fora do jogo!! Após reunir muitos documentos, pagar algumas taxas e receber o okay da agência, havia chegado o dia da entrevista. Minha mãe mais nervosa do que eu, me lembro que na época ainda fumava e acredito que fumamos meio maço só ali na frente do consulado esperando para sermos chamadas. Minha mãe não pode entrar comigo o que me deu um sentimento de desespero e ao mesmo tempo "agora é com você"....o que não era ruim, mas a partir daquele momento sabia era tudo comigo mesmo !!
Durante as 2 horas no aguardo, vi pessoas saindo felizes, pulando, sorrindo, cantando e também algumas saindo chorando, xingando e reclamando...uma tortura aquela fila..., mas o que realmente eu me perguntava era o que fazia alguém ser negado o visto e outros não. Alguns pessimistas da fila diriam que tudo dependia do humor do officer que te atendia e que a pior era aquela loira do guichê 3 que já havia negado 4 vistos. Okay, então a única coisa que tenho que fazer é não passar com a loira do guichê 3.
A fila andava e minha vez a cada minuto se aproximava ....e na minha cabeça meio matemática eu só conseguia pensar, 6 guichês, 3 pessoas na minha frente qual a proporção de eu cair com a loira do guichê 3?
Matemáticas, superstições e otimismos a parte, meu corpo congelou ao ouvir aquela voz com aquele sutaque no qual eu não conseguia reconhecer. Acho que até ali nunca tinha conhecido tão de perto uma Americana no qual falava português, e com um sutaque tão simpático. Devo ter ficado meio paralizada no momento pois ela teve que me chamar novamente.  Um senhor na qual se encontrava atrás de mim me cutucou com um sorriso e com a frase " É você no guiche 3 boa sorte"...Sorte?
Bom vamos lá....é minha vez!
-  Boa tarde -  eu disse sem resposta.
- Seu documentos - Loira do guiche 3
- Por que quer ir para os Estados Unidos - Loira do guiche 3
- Eu quero aprender o Inglês e ter a oportunidade de conhecer os EUA - Eu
- Quer ficar lá Ilegal depois? - Loira do guichê 3
- Oi? Não entendi a pergunta?
- Você vai ficar ilegal lá depois? ( ela repetiu pausadamente e mais alto como se eu não entendesse o português, sabe quando você não compreende o que a pessoa diz e ela repete como se você fosse surda).
- silencio
Eu devo ter feito uma cara bem de "what the f..." (como assim?) por que ela me olhou carimbou e disse: Boa viagem!!
- Lembro de ter perguntado se era só isso e ela com cara de sim vai logo antes que eu mude de ideia fez meu sonho se aproximar ainda mais.
Ao sair do consulado encontrei a minha mãe na qual já havia acabado com aquele maço de cigarro e estava com uma fisionomia um tanto quanto estranha. Deve ter sido os 5 cafés no qual ela disse ter tomado enquanto me esperava. No caminho de volta tive certeza que eram os cafés misturados com uma preocupação e ansiedade sem fim. Ela veio me falando de todos os cuidados que eu deveria ter, do que levaria nas minhas malas e de como eu iria fazer falta na família. Meu deus, era real, eu iria viver my "American Dream" e não ia demorar muito.
Os dias se passavam rapidamente e algumas famílias começavam a entrar em contato. Nunca fui muito boa em geografia e ainda entender de onde as famílias estavam ligando era um difícil trabalho a ser feito. Devo ter perdido contato com umas 3 famílias  nesses processo de comunicação. Flórida me parecia uma boa opção mesmo com muitas pessoas dizendo que lá exista muitos brasileiros e eu não iria aprender o inglês assim. Califórnia então me parece ótimo. Mas Califórnia tem os furacões as pessoas diziam. Furacões??? nossa aquilo parecia mais um filme de ação com drama. E Boston? Hum Boston é legal, neva bastante mas o que é neve perto de furacões e um monte de brasileiro me impedindo de aprender o inglês?!! Parecia se não na primeira conversa com o pai ele não mencionasse o Brasil como o país do futebol e mulheres gostosas!  "É acho que não vai dar certo"!
Um mês se passou desde o meu visto e minha ansiedade e medo aumentavam a cada dia. Algumas pessoas ainda tentavam me convencer a não ir, outras não entendiam essa minha sede de aventura e outras me apoiavam intensamente quase que querendo ir junto na mala.
A grande proposta veio de Michigan, uma família com 4 crianças no qual uma era especial. Ela tinha síndrome de down e o que chamou a atenção da família para meu perfil foi o fato de eu ter me formado em psicologia. Super compreensivo e conveniente, au pair com habilidades em psicologia. Mas perai, onde fica Michigan? hum aquele estado em forma de luva pertinho do Canada. Não sei por que mas sempre tive uma paixão pelo Canadá e Michigan ser perto dali me daria oportunidades de conhecer o lugar. Parece ótimo!!!  Eles me enviaram uma foto e eu simplesmente AMEI o sorriso de cada um ali. Trocamos uns 3 emails, nessa época eu estava fazendo aula particular de inglês, na verdade um intensivo para me ajudar nesse processo e chegada nos EUA.
Em uma quinta feira qualquer de Julho,(lembro que era uma quinta pois eu tinha marcado minha festa de despedida no sábado), minha avó entra no meu quarto e diz que a agência acabará de ligar para confirmar a data do meu embarque. Acordar com uma notícia dessa é um tanto assustador e excitante. Ela trazia uma fisionomia serena misturada com uma alegria e tristeza contida. Minha vó sempre me apoiou em tudo que eu queria, ela gostava desse meu espírito aventureiro, acho que ela tinha um dentro dela também no qual os tempos que ela viveu não lhe davam muitas opções para isso. Ainda com aquela cara de sono eu fiquei ali parada olhando esperando ela dizer o dia sem ter coragem de perguntar. É daqui um mês Carla, ela disse...Dia 19 de Agosto você está indo....
Em 1 mês meu sonho iria se tornar realidade, mas ainda tinham tantas coisas a serem feitas....
Não preciso nem dizer que durante esse um mês chorei, sorri ,chorei, me despedi, sorri, chorei ...e que dia 19 de agosto de 2006 não demorou muito a chegar.

E lá fui eu em busca do meu American dream!!! New York era minha primeira parada...



quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Uma brasileira nos EUA!

Deixei nosso amado mas decepcionante Brasil em Agosto de 2006 por um programa de intercâmbio chamado Au pair. Como au pair minha função era cuidar/auxiliar nos cuidados das crianças da família na qual fui escolhida dentro de um sistema de perfil " tipo um facebook só de au pairs do mundo inteiro". Para quem não tem muito dinheiro para investir em um visto de estudante, nem muito dinheiro para se manter nos Estados Unidos como turista, esse programa é ideal para se chegar até lá pois oferece moradia, comida, celular, algumas família dão carro,  uma ajuda de custo e uma quantia simbólica para se estudar o inglês em uma community College. Excelente para quem acabará de deixar o Brasil com $500 dólares no bolso, 2 malas e muita muita coragem, entusiasmo e Fé. Dois anos como au pair (na qual é o limite do programa) foram o suficiente para me  ensinar muito sobre a cultura Americana, meu inglês já não era só Hello, my name is Carla I am 24 years old, I am from Brazil and I like yellow, e eu já conseguia ir até o mercado fazer compras sabendo o nome dos alimentos, interagia com nativos e ja estava até fazendo apresentações em Inglês na escola. Super evolução, eu estava feliz mas sabia que não era hora de voltar para o Brasil pois ainda existiam muitas oportunidades naquele país para eu aproveitar. Então com a ajuda de alguns amigos e familiares entrei no processo do meu visto de estudante, mas como eu iria conseguir pagar tantos dólares em um curso sendo que estudantes não são nem permitidos a trabalhar. Realisticamente eu sabia que minha família, considerada classe média, não teria como me ajudar nesse investimento. Arregacei as mangas e fui atrás do que eu melhor sei fazer...pesquisar! Durante dias de pesquisa, conversas com amigos e conhecidos, descobri um programa de bolsa de estudo no qual era oferecido para TODOS estudantes, isto é, eu não precisava ter green card ou ser cidadã Americana, eu apenas tinha que obter 3 cartas de referencia, escrever uma redação sobre o por que eu merecia aquela bolsa de estudos, fazer duas provas de Inglês entre elas o Toefl para Mestrado ( a pontuação tem que ser maior), organizar um currículo, ser aceita pela Universidade e sair de porta em porta nos departamentos para ver se daria a sorte de encontrar alguém que se interessasse pelo meu perfil....ufa...só isso, que desafio!! 
Well, eu atravessei o Atlântico com $500 dolares no bolso lembram? Isso era apenas mais um obstáculo a ser superado. Depois de 8 meses, lá estava eu com meu visto de estudante, fazendo meu Mestrado em Criminologia e trabalhando para o departamento de Tecnologia da Eastern Michigan University. Feliz? RADIANTE!! Foram 3 anos de mestrado e posso afirmar que tiveram inúmeras vezes na qual achei que não conseguiria, chegou uma época que a única coisa que conseguia fazer era estudar e trabalhar, não tinha mais fins de semana, meu "casamento de quase 4 anos estava indo pelo ralo" e o cansaço era nítido em meu rosto. Amigos e familiares diziam que eu estava indo longe demais, longe demais? Eu atravessei o Oceano Atlântico e quero trabalhar para o FBI, isso não pode ser o longe demais!! E não foi! 
Estava prestes a me formar e não podia me candidatar ao FBI pois não era cidadã American apenas tinha o Green Card vindo do meu casamento que naquele estágio nem existia mais....tentei a policia do Hawaii pois era uma das únicas que aceitavam candidatos apenas com o Green Card, e entre nós nada mal trabalhar de policia no Hawaii não é? Mas a decepção maior veio quando reprovei no exame físico na etapa das flexões, 17 flexões pra quem havia descoberto flexões a menos de 6 meses era um teste de fé e força que meus braços não deram conta. Sai com um cartão de 14 flexões realizadas e um volte ano que vem o Hawaii precisa de policiais como você!!.... em baixo do braço...
Ano que vem era muito longe, a essa altura eu já tinha contas a pagar, um carro, um apartamento, luz, água, celular, internet, netflix, um cachorro, nossa e agora....
E lá no fim do túnel eu pude enxergar algo balançando como uma bandeira, uma bandeira vermelha, azul e branca....como se estivessem dizendo, você pertence a esse país será uma honra tê-la em nosso Exercito! Perai...ARMY? EU? 
Alguns podem dizer que entrar no exército deve ser fácil, mas olha, eu posso garantir que não é....e conforme cada etapa foi se concretizando e eu passando por elas, tinha mais certeza de que estava no lugar certo, uma brasileira servindo o exército Americano....loucura? talvez superstição demais!!

No dia 23 de Julho de 2012 eu peguei um ônibus com mais 27 meninas para um treinamento de 3 meses em South Carolina  sem contato com o mundo exterior para me tornar uma soldada do Exército Americano. Era uma mistura de medo, excitação, orgulho, desespero...e um frio na barriga que ficou ali por dias.  A minha estória desde o primeiro dia nessa pior e melhor experiência da minha vida, terei que deixar para outras conversas, pois demandam muitas páginas, energias e lembranças não tão boas assim...o que posso dizer para vocês é que hoje estou de volta ao nosso amado e decepcionante Brasil, sentindo que aqui é onde devo estar e o que mais desejo é poder ajudar pessoas na qual buscam oportunidades nos Estados Unidos como um dia tive pessoas que me ajudaram a concretizar alguns dos meus sonhos!!

Carpe Diem e nos vemos em breve ;)